Trump e o fim da história

A eleição de Donald Trump não representa um fato isolado, mas um sinal de retrocesso quanto aos direitos humanos no mundo. O novo presidente americano, um showman, soube aproveitar o sentimento americano dividido. São dois Estados Unidos – um que está cravado na liberdade, na luta contra a escravidão, na participação na Segunda Guerra contra o nazismo, em Martin Luther King e outro, no Império, que absorveu os conceitos nazistas de relação política, na Guerra, na exploração e contra os imigrantes. Estes sentimentos aproveitados por Trump.

O País já passou pelo Macartismo, entre 1950 e 1957, em plena época de caça aos comunistas e cassação de direitos. Recentemente, passou pela era Bush, e a aprovação do Patriot Act (Lei Patriótica) – que permitiu tortura, intercepções telefônicas sem autorização judicial e todas as formas de rompimento ao devido processo legal, em nome da luta contra o terrorismo.

Os fundamentos que admitem a quebra das garantias democráticas, como o Patriot Act americano, foram estudados pelo professor de ciência política da Universidade Federal Fluminense (UFF), Gisálio Cerqueira Filho. Ele tratou recentemente dos sentimentos envoltos em atos de exceção admitidos pelo Judiciário nos processos envolvendo o ex-presidente Lula e a Operação Lava Jato.

É difícil perceber, mas nesta onda de retrocessos o Judiciário na América Latina exerce papel preponderante em processos de perseguição a líderes populares em nome da corrupção. O jurista e professor de Direito Constitucional, Pedro Serrano, faz uma análise à semelhança de Honduras, Paraguai e Brasil, e o papel do Judiciário na destruição da imagem dos governantes de esquerda.

No cenário mundial também pode ser observado um retrocesso a direita. A França elegeu em primeiro turno, em novembro de 2016, François Fillon, um católico conservador de 62 anos, que teve como principal rival a líder de extrema-direita, Marine Le Pen, ambos na luta para substituir o socialista, François Hollande. O partido populista Lei e Justiça ganhou também as eleições legislativas na Polônia, em 2015. Sergio Mattarella assumiu a presidência da Itália lançando vivas a Donald Trump, e o presidente russo Vladimir Putin mais discreto também demostrou seu apoio ao novo comandante da Casa Branca.

Até a defensora de políticas para refugiados e contrária à discriminação dos muçulmanos, Angela Merkel, sofre enorme pressão em razão dos atentados terroristas.

Mas a história não acabou, como alardeava o filósofo e economista político nipo-estadunidense, Francis Fukuyama, em 2011. Há questões humanas a serem solucionadas, das guerras que desterram milhões de seres humanos, diferenças sociais, miséria e fome. Há otimistas que esperam Michelle Obama candidata após a era Trump. Em 2018, haverá eleições no Brasil.

Artigo publicado originalmente no Estadão.

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