Neste sábado (18/9) faleceu o advogado Fernando Tristão Fernandes, aos 94 anos, no Rio de Janeiro. Com 62 anos de advocacia, Fernandes teve atuação destacada na defesa dos perseguidos pela ditadura militar (1964-1985) sendo ele mesmo uma das vítimas do regime autoritário.
Tristão Fernandes se formou em 1958 na UFPR (Universidade Federal do Paraná). Sua inscrição na OAB data de 7 de abril de 1960. Por sua trajetória, o advogado recebeu da OAB-RJ a medalha de Sobral Pinto, uma homenagem aqueles que exercem a profissão por mais de 50 anos.
No último dia 11 de agosto, Tristão Fernandes concedeu entrevista à ConJur. Uma homenagem ao Dia do Advogado. Ele falou sobre o ofício que exerceu por 62 anos e os desafios que os advogados da nova geração terão que enfrentar.
Apesar das agruras contemporâneas, diz seguir entusiasta da profissão e acreditar que o principal desafio para esta geração de advogados é manter as conquistas alcançadas pela sua.
“A nossa profissão é dura, mas é necessário antes de tudo amar a justiça e exigir a aplicação da lei, mas lei que tem que ser feita por um Congresso eleito pelo povo. Lute e acredite na luta pelos direitos sociais e democráticos. Eu faria tudo igual. Mas entendam que o direito não é só direito ou dogmática, é literatura, história, teatro. Se embrenhem da cultura brasileira e amem o povo e poderão ser bons advogados”, aconselhou.
Em 2016, também em entrevista à ConJur, ao lado do filho Fernando Augusto Fernandes, disse que, se a arbitrariedade era evidente no regime militar, hoje se encontra acobertada por um arcabouço que lhe dá ares de legalidade. Falavam sobre a tática adotada nos últimos tempos no Brasil pelos órgãos de investigação, sobretudo na condução da operação “lava jato”, escancarada anos depois pela “vaza jato”.
Leia abaixo a nota enviada pela família do Advogado à ConJur:
Nesta data, 18 de setembro de 2021, comunicamos a todos que a luz do nosso fundador e mestre Fernando Tristão Fernandes virou uma estrela na história. Foram 94 anos vividos, sendo 62 anos como advogado. A sua história foi, no mínimo, espetacular. De bancário, a sindicalista, passando por universitário, militante, perseguido político, vítima de um atentado a bala desferido pelas forças antidemocráticas, conhecedor extremo do direito, marido e pai de quatro filhos.
A jornada de Fernando Tristão Fernandes teve início em 3 de setembro de 1927, na então pequena Linhares, no Espírito Santo. Na sequência, viveu em Minas Gerais, onde se casou com Zulka Fernandes em 1950. Juntos, foram para Bahia, Paraná, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo, numa jornada recheada de histórias mirabolantes e encantadoras.
Apenas na advocacia foram mais de seis décadas de trabalhos contínuos, sem perder os seus ideais, de um país mais justo e uma advocacia focada na liberdade e na Justiça, sempre pautada pela Constituição Federal. Tristão, com o seu humor, iluminava os nossos escritórios, advogados, clientes, profissionais do direito e, acima de tudo, nossas vidas com a sua sabedoria, de um homem que parecia que havia nascido ontem.
Formado em 1958, na Universidade Federal do Paraná, conquistou a sua inscrição na Ordem em 7 de abril de 1960. Em 2018, recebeu da OAB do Rio de Janeiro, a medalha de Sobral Pinto, uma homenagem aos advogados que exercem a profissão por mais de 50 anos. Em seu discurso, lembrou um pouco da essência do seu trabalho: “E apelo em defesa do povo brasileiro a todos aqui presentes que estejamos vigilantes nessa defesa para que os nossos habitantes, para que os nossos filhos, netos, tenham colégio, tenham saúde, dignidade e orgulho de ser brasileiro.”
Essa combatividade permeou a sua longa e brilhante vida, ao enfrentar os desmandos, as arbitrariedades, as injustiças e as adversidades, como por exemplo, ao lutar pela volta da democracia em nosso país durante a ditadura militar (1964-1985). Tristão deixou o seu legado como referência absoluta para os filhos, netos advogados e juristas.
Tristão no alto de sua sabedoria fez uma despedida da família e em um discurso proferiu suas últimas palavras: “Eu reúno a minha família. Essa é a minha família. Eu o pai dos advogados, que sustentei na escola e dei uma educação profissional de alto gabarito. E criei uma família magistral. Então, talvez seja a última vez que nos reunimos dessa maneira. Porque estou com 94 anos. Então, quero que vocês guardem a minha lembrança. A lembrança da minha querida mulher e esposa, mãe de vários de vocês. Espero que vocês sigam o exemplo porque sem família não se pode viver” Paraty/RJ, Janeiro de 2021.
Tristão partiu sereno após uma jornada épica e vencedora. A cerimônia será reservada a família que agradece as preces.
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